Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
...
Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
...
Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o ímpossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superficie,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.
Álvaro de Campos